Planeamento do Mergulho com Patamares

Neste artigo trazemos um dos tópicos do curso CMAS Three Star Diver, onde se aborda o planeamento do mergulho com patamares. Poderão encontrar mais informações no Módulo 5 – Mergulho Profundo e com Patamares no tópico “Planeamento do Mergulho com Patamares”.
O primeiro problema que se põe no planeamento de um mergulho com patamares é a necessidade de haver ar suficiente para cumprir os patamares necessários.
Sendo o Mergulhador CMAS Three Star Diver um mergulhador com mais conhecimentos teóricos e práticos adquiridos e uma maior experiência subaquática, iremos introduzir um outro método de planeamento e “cálculo da autonomia” (para mergulhos com paragens de descompressão).
Alertamos para o facto deste método exigir um rigor absoluto na sua execução sob pena de poder vir a originar situações que, eventualmente, poderão colocar em risco a segurança do mergulhador.
Vamos agora exemplificar como realizar o planeamento (cálculo da autonomia) para um mergulho efectuado à profundidade de P = -30m com a duração de TF = 25min, o qual, após a consulta da tabela Büehlmann, se apresenta com o perfil descompressivo planeado.

Uma vez que este mergulho nos vai obrigar a permanecer dentro de água até completarmos as paragens de descompressão obrigatórias é necessário garantir que temos ar suficiente e assegurarmos reserva suficiente para situações extraordinárias.
1º ESTABELECER PERFIS DESCOMPRESSIVOS ALTERNATIVOS
Começaremos por estabelecer uma zona de segurança à volta deste planeamento que nos permita ter uma certa margem de erro, obtendo-se essa margem considerando mais três parâmetros:
- Profundidade imediatamente superior à do mergulho planeado.
- Tempo de fundo imediatamente superior ao do mergulho planeado.
- Tempo e profundidade superiores ao mergulho planeado.

2º CONSTRUIR QUADRO COM PROF. E T.F.
Através da consulta na tabela, construimos o quadro seguinte para os 3 perfis descompressivos alternativos:


ATENÇÃO
O perfil descompressivo escolhido para o plano de mergulho deve ser sempre com base na imersão real que pretendemos realizar inicialmente.
Nunca deve escolher um perfil descompressivo alternativo como o seu perfil de mergulho planeado.
Se por alguma razão depois de realizar os cálculos dos perfis alternativos, alterou a profundidade e o tempo de fundo, deve realizar os cálculos para os novos 3 planos alternativos e não escolher um dos planos alternativos como opção para o seu plano de mergulho.
Por exemplo, se o mergulho inicialmente teria a profundidade de 30m mas existiu uma alteração e no plano podemos atingir os 33m. Neste caso o plano não deverá ser realizado relativamente aos 30m, mas sim relativamente aos 33m.
Para efeitos de planeamento o mergulhador deve levar no seu bloco de anotações (wet note) os perfis alternativos registados. A aplicação do perfil de subida irá depender da Profundidade e Tempos de Fundo da imersão.
A recomendação da escolha do perfil alternativo valores de mais Fundo e mais Tempo relativamente ao plano previamente estabelecido como o perfil de pior caso, está relacionado por serem os valorbjes da tabela imediatamente a seguir ao perfil de mergulho planeado. No entanto, dependendo do objetivo do mergulho, equipamentos disponiveis, volume das garrafas, condições ambientais e experiência do grupo de mergulhadores, poderão ser definidos outros perfis descompressivos alternativos.
3º CÁLCULO DO AR PARA O PLANO E PIOR CASO
Após o estabelecimento destes valores iremos calcular o ar necessário para executar o Plano e o Pior Caso. Teremos que contar com o ar necessário para efectuar a subida, o que é feito em função da meia subida.


PLANO
De acordo com o Plano, o cálculo da meia subida (em metros) será:

[(P – Patamar mais fundo)/2] + Patamar mais fundo
Meia Subida = [(30 – 3)/2] + 3 = 16,5m
O cálculo do ar para a subida é feito relativamente ao valor da pressão a que é respirado à meia subida, sendo o consumo dado pela expressão:
c = Pa x t x valor do consumo médio Pa = pressão ambiente a meia subida
CÁLCULO DO AR NECESSÁRIO PARA O PLANO

NOTA: A distância do fundo ao 1º patamar são 27m, pelo que deverá ser feita em 2,7min, que arredondamos para 3min.
PIOR CASO
Para o Pior caso, o cálculo da meia subida (em metros) será:

[(P – Patamar mais fundo)/2] + Patamar mais fundo
Meia Subida = [(33 – 6)/2] + 6 = 19,5m
O cálculo do ar para a subida é feito relativamente ao valor da pressão a que é respirado à meia subida, sendo o consumo dado pela expressão:
c = Pa x t x valor do consumo médio Pa = pressão ambiente a meia subida
CÁLCULO DO AR NECESSÁRIO PARA O PIOR CASO

NOTA: A distância do fundo ao 1º patamar são 24m, pelo que deverá ser feita em 2,4min, que arredondamos para 3min.
4º CÁLCULO AR DA GARRAFA
Para calcular o ar na garrafa, vamos utilizar a regra dos quatro quartos para comparar os valores do ar para o plano mais a reserva com os valores do ar para o pior caso, sendo escolhido o valor mais elevado:

Face aos valores obtidos, tomaremos o valor do pior caso (3171l), o que nos obriga a utilizar uma garrafa de 15l carregada a 220bar ou duas garrafas de 10l carregadas a 160bar.

5º CÁLCULO PRESSÃO DA GARRAFA PARA INÍCIO DA SUBIDA
Temos agora de definir a pressão a que se deve iniciar a subida.
Segundo o Plano, iremos gastar 2000l de ar no fundo. Assumindo que a nossa escolha foi uma garrafa de 15l a pressão corresponderá a 2000 / 15 = 133,33bar que arredondado dá 134bar.
Sendo assim, à pressão a que carregámos a garrafa (220bar), teremos de subtrair o valor atrás calculado 220 – 134 = 86bar, que arredondaremos para 90bar.
O início da subida dar-se-á quando atingirmos o tempo de fundo planeado ou atingirmos a pressão atrás referida (90bar).

NOTA: Esta garrafa não é para ser utilizada durante o mergulho normal. Destinase a ser utilizada exclusivamente no caso de haver uma falha na garrafa principal.
CÁLCULO PONY BOTTLE – PIOR CASO
A capacidade da garrafa auxiliar (pony bottle) deve ser tal que permita pelo menos
fazer toda a subida no pior caso:

Assim, se for utilizada uma garrafa de 3 l, por exemplo, esta terá que ser carregada a 200bar. A capacidade da garrafa auxiliar (pony bottle) deve ser tal que permita pelo menos fazer toda a subida no pior caso: C (pony) = 177 + 128 + 286 = 591l
As normas CMAS recomendam que todos os mergulhos com paragens de descompressão só deverão
ser efectuados desde que seja utilizada uma fonte alternativa de ar independente, por exemplo uma pony bottle.
6º PLANO FINAL – INVERSÃO DO MERGULHO
Por uma questão de segurança acrescida no caso de acontecer algum imprevisto, iremos agora calcular qual o tempo de duração do mergulho sem paragens de descompressão (LND) ao fim do qual teremos que abortar o mergulho, isto é, ao fim do qual devemos interromper o mergulho e regressar à superfície.
Para 30min a -33m (pior caso) o tempo limite sem paragem de descompressão corresponde a 14min.
Este valor nunca será ultrapassado se ao longo das verificações feitas durante o mergulho se constatarem situações que a tal obriguem.
Entre as verificações a fazer desde que se inicia o mergulho, destacamos:
- Controlo da pressão nas garrafas (principal e pony).
- Monitorização da profundidade.
- Monitorização do tempo.
- Cumprimento rigoroso do Plano.
- Verificações relativas ao companheiro:
- Eventuais fugas de ar no seu equipamento.
- Seu posicionamento.
- Sua atitude.
O tempo calculado para abortar o mergulho só será ultrapassado se todas as verificações atrás referidas não acusarem valores e situações anómalas, significando assim que nos mantemos dentro do plano.
7º PROFUNDIDADE DE CONTROLO
A profundidade de controlo (patamar de controlo) é a profundidade para a qual podemos subir (à velocidade da tabela) em qualquer fase do mergulho, sem que aconteça qualquer problema.
Para simplificar adopta-se a profundidade do patamar imediatamente inferior ao primeiro patamar obrigatório.
No exemplo atrás referido, a profundidade de controlo será o patamar dos –9m, que só terá que ser efectuado ao fim de 40min de mergulho (TF) para a maior das profundidades consideradas.
8º O QUE LEVAR DURANTE A IMERSÃO
Na preparação de um mergulho com patamares, existem algumas recomendações a ter em conta:
- A utilização do computador nas paragens de descompressão em más condições de mar, pois podemos ter de fazê-las mais fundo.
- O uso da tabela de mergulho, relógio e profundímetro precavendo uma falha no computador.
- A utilização de uma placa (wet note) onde serão registados os seguintes elementos:
- Plano de mergulho e perfis descompressivos alternativos
- Tabela da zona de segurança
Na tabela da zona de segurança (com mais uma coluna) será registado:
- O tempo de chegada aos patamares
- O valor da pressão para iniciar a subida
- O tempo para abortar o mergulho (LND)
- A profundidade de controlo
- O tempo de chegada à profundidade de controlo
O tempo de chegada obtém-se adicionando ao tempo de fundo e o tempo da subida até ao patamar considerado.

CONSIDERAÇÕES
Comparando o planeamento referido no manual CMAS Two Star Diver com este tipo de planeamento, salta-nos à vista que no primeiro partimos do pressuposto de que antes do mergulho dispomos de uma certa quantidade de ar (capacidade da garrafa a multiplicar pela pressão de carregamento), enquanto que agora o cálculo da capacidade da garrafa e da pressão de carregamento é feito depois de ter sido calculado o ar necessário em função do planeamento do mergulho.
Daí a nossa afirmação inicial de que este método exige um rigor absoluto na sua execução, sob pena de, em situações extremas, poder vir a colocar em risco a segurança do mergulhador.
REUNIÃO FINAL
Como foi referido no manual de CMAS Two Star Diver ao terminar o mergulho deverá ser feita em terra uma reunião final com todos os participantes, onde serão discutidos todos os pormenores relacionados com o mergulho efectuado, feitas as chamadas de atenção necessárias, ouvidas críticas e sugestões e onde finalmente será feito e autenticado o registo do mergulho na Caderneta de Imersão (log book) dos mergulhadores.