Na tabela de descompressão Bühlmann 86 existem valores limite de profundidade/tempo que permitem ao mergulhador subir sem ter de realizar paragens de descompressão. Os valores acima destes limites estão representados na zona amarela.
Para cada profundidade existe um Tempo de Fundo máximo, dentro do qual os tecidos não acumulam azoto em quantidade suficiente que possa provocar acidentes de descompressão (o azoto não ultrapassa os limites suportados pelo organismo). Por questões de prevenção e segurança é obrigatório respeitar a velocidade de subida e a paragem de segurança, da qual falaremos mais adiante.
Isto não significa que não permaneça dissolvida nos tecidos uma certa quantidade de azoto excedentário. Esse azoto só será completamente eliminada algum tempo após o mergulho (entre 2 a 24 horas).
No âmbito do mergulho recreativo, os mergulhos não deverão ter paragens de descompressão
Como já vimos, durante o mergulho o azoto vai-se acumulando lentamente no organismo do mergulhador. Porém, a sua libertação através da respiração nem sempre se pode efetuar da mesma forma gradual, dado que o mergulhador não pode subir tão lentamente como seria desejável. A solução encontrada para o regresso à superfície, de forma a libertar o azoto em excesso antes que ultrapasse o limite suportado pelo organismo, é a seguinte:
Na tabela Bühlmann 86, para os mergulhos efetuados até 700m acima do nível do mar, foram definidos patamares de 3 em 3 metros (3, 6 , 9 e 12m de profundidade). Para mergulhos efetuados entre os 701 e os 2500m de altitude, os patamares são aos 2, 4, 6, 9 e 12m.
Sempre que o Tempo de Fundo ultrapasse o tempo limite para a profundidade máxima atingida, tornam-se obrigatórias as paragens de descompressão, não sendo possível subir diretamente para a superfície
O mergulhador deve transportar sempre consigo uma tabela de descompressão, quer para a planificação do mergulho, quer para utilização durante o mergulho, sempre que haja necessidade de efetuar uma consulta rápida e fácil.
A tabela seguinte, extraída das Tabelas Bühlmann 86, apresenta os limites máximos de Tempo de Fundo em função da profundidade, de forma a não ultrapassar o limite de azoto suportado pelos tecidos. Nestas condições, para regressar à superfície, apenas será necessário efetuar uma paragem de segurança de 1 min aos 3m.
Profundidade Máxima | Tempo de Fundo Limite | Profundidade Máxima | Tempo de Fundo Limite |
---|---|---|---|
9 m | 335 minutos | 27 m | 20 minutos |
12 m | 125 minutos | 30 m | 17 minutos |
15 m | 75 minutos | 33 m | 14 minutos |
18 m | 51 minutos | 36 m | 12 minutos |
21 m | 35 minutos | 39 m | 10 minutos |
24 m | 25 minutos | 42 m | 9 minutos |
A 9 metros de profundidade existe uma limitação de tempo de 5h 35min
É a quantidade de azoto excedentário dissolvido nos tecidos do mergulhador após a sua chegada à superfície. Na tabela de descompressão, esta quantidade de azoto é representada por uma letra.
Já vimos que, após terminado o mergulho, permanece dissolvida nos tecidos certa quantidade de azoto, que só será completamente eliminada algum tempo depois (entre 2 a 24 horas), como se pode ver na Tabela IS (Intervalo de Superfície).
Os valores reais do Tempo de Fundo e da Profundidade de mergulho podem não coincidir com os valores mostrados na tabela. Quando isto acontece, devem considerar-se sempre os valores imediatamente superiores aos valores reais do tempo e profundidade registados.
Em mergulhos com exagerado esforço físico tomar o tempo imediatamente superior ao tempo de fundo real.
Em mergulhos em águas muito frias tomar o tempo imediatamente superior ao tempo de fundo real.
Depois do regresso à superfície, tendo efetuado um mergulho com ou sem paragens de descompressão, não se pode considerar que o mergulhador eliminou completamente o azoto em excesso dissolvido nos tecidos. Apenas se poderá afirmar que a quantidade de azoto dissolvido no organismo já não é tão suscetível de causar acidentes.
No caso de a profundidade maxima ser de 16metros e o tempo de fundo de 52minutos, o Grupo Residual de azoto com que o mergulhador termina o mergulho é o F (GR=F).
Já vimos que o mergulhador só se pode considerar completamente liberto de todo o azoto residual entre 2 a 24 horas após o mergulho. Tal facto dá origem a algumas restrições importantes durante esse período de tempo: esforços físicos violentos, voar, subida de montanhas e mergulhos sucessivos.
Se for necessário viajar de avião (pressurizado ou não) ou subir uma montanha a seguir a um
mergulho, o mergulhador ficará sujeito a pressões inferiores à pressão atmosférica ao nível do mar, para a qual as tabelas foram calculadas. Por isso, é preciso esperar o tempo necessário para eliminar o azoto em excesso, ao nível do local em que efetuou o mergulho.
Por razões de segurança, mesmo depois de realizado um mergulho sem paragens de descompressão, só se deve voar depois de passarem 12 horas. Igualmente por razões de segurança, durante a primeira hora após o mergulho devem evitar-se percursos de montanha. Se isso acontecer inadvertidamente, logo que se detete o erro deve-se descer imediatamente.
Embora esta situação seja difícil de acontecer em Portugal continental, no Algarve, por exemplo, em menos de uma hora o mergulhador pode estar a subir a Serra de Monchique (900 metros de altitude) depois de ter estado a mergulhar em Lagos ou na Barragem de Stª Clara (Ourique). Em contrapartida, nos Açores e na Madeira este problema coloca-se com certa frequência e com altitudes mais elevadas.
Também é importante que o mergulhador não faça esforços físicos violentos a seguir ao mergulho, porque o aumento do ritmo circulatório, acrescido de uma maior produção de CO2, pode conduzir ao Acidente de Descompressão.